quarta-feira, 14 de novembro de 2012



Atravessei desertos e abismos
Comi o pão dormido
Bebi a água do deserto
Sangrei quase até a última gota
Quase morri quando nasceu o desespero
E tantas luas se passaram
E tantos dias renasceram
E o vento foi varrendo
E a ferida foi secando
A vida pediu uma nova chance
E todas as orações se fizeram canto
Das pedras a areia
Das dores o alento
Da solidão a entrega
E das linhas retas e previsíveis
A um mundo novo de possibilidades

Lou Witt

Eu entendo o amor que sinto
Sei onde ele nasce e por quem ele vive
Sei dos meus desejos e das minhas fomes
Sei dos meus medos e sei da minha força
Sei do hoje
Do que pulsa em mim agora
Desta vontade de te envolver
De te mostrar o que está além da minha fragilidade
De te fazer acreditar que o meu mundo é o mesmo que o teu
E que é nele que te encontro...
Que me encontro...
E que apesar das pedras
Eu consigo plantar flores
E que além de tudo
E acima de tantas coisas
É nos teus olhos que eu me vejo
E me perco tantas vezes
Somente para me encontrar de novo

Lou Witt
Fale das coisas do mundo
Dos lugares onde teus olhos pousam
E encontram detalhes que por vezes não vejo
Conte-me das cores que você encontra
Em cada esquina
Em cada escada coberta de pétalas
Em cada muro de portões antigos
Leia pra mim sempre um poema
Uma frase
Uma passagem de um livro
Um escrito teu que estava guardado
Qualquer coisa que não seja o silêncio
E dance comigo qualquer música
E cante comigo qualquer canção
E me receba sempre com teu sorriso
Porque somente assim
As cores que você vê no mundo
Serão as que me enfeitarão os olhos

Lou Witt


Sobre o amor e suas peculiaridades

Descobri que o amor é imperfeito, que amar é imperfeito.
Que somos seres imperfeitos na busca de algo perfeito. Algo que não existe.
O dia a dia nos ensina.  A vida nos ensina.
O cotidiano nos mostra isso o tempo todo, pena que nem sempre temos a capacidade de ver.
Vivemos a procura de um amor de sonhos.
Um amor feito de poesias e belas palavras.
Sentimos até o cheiro do amor-conto-invenção.
Vivenciamos esse amor na nossa busca insana pela perfeição, pelo sonho das mil e uma noites.
Em nossos mais loucos delírios idealizamos a pessoa alvo do nosso amor supostamente perfeito como a oitava maravilha do mundo e baseados nessa expectativa “caímos de paraquedas” e vendados num campo desconhecido e louco do qual sequer conhecemos a porta de entrada e nem em sonhos (ou pesadelos) sabemos por onde caminhar.
Mas fazemos poesia, porque poesia é preciso.
E a noite quando olhamos nossas paredes, quase sempre pintadas de branco (porque não ousamos jogar uma tinta colorida), os tantos sonhos nos enfeitiçam e temos novamente a certeza de que o mundo das ilusões vai pular da fantasia e passará a fazer parte da nossa realidade.
Ledo engano. Nada acontece.
Então chegamos à conclusão de que estamos lendo demais contos e lendas, histórias da carochinha, faz de conta com finais felizes.
Esquecemos que o amor é um construir diário, que as imperfeições é que nos fazem gente, que ser gente é ser passível de imperfeições.
Voltamos nossos pensamentos a um mundo tão cheio de ilusões e esquecemos de segurar a mão do ser lindamente imperfeito que pode estar ao nosso lado.
Mas se tivermos sorte e aquele algo mais sussurrar em nossos ouvidos nos dizendo que o amor é também o acordar descabelado e com olheiras, que é a roupa suja pra lavar, o almoço, a janta, a desordem da casa, as contas a pagar, então poderemos nos considerar imperfeitamente em estado de amor.
E apesar disso
E tão simplesmente por isso
Continuaremos a fazer poesia.

Lou Witt